sexta-feira, 3 de junho de 2011

"A Seita da Perfeita"


Nunca gostei de começar a escrever na página da esquerda, quando o caderno não é de espiral, sempre é tenso chegar até o final de cada linha, sem contar o espaço que sobra pela falta de equilíbrio em escrever sobre uma folha que não dobra.

Comecei esse texto pensando em escrever uma coisa grandiosa, intensa e emocionante, foi difícil escrever “emocionante” agora, quase perdi o equilíbrio, pelo menos foi sinestésico...

Aqui vou eu reclamar da hipocrisia e falsidade no mundo... Que original falar que as pessoas usam máscaras, que sentem uma coisa, tentam agir de acordo e quase sempre falam e agem unicamente favorecendo-as.

Não temos mais uma juventude virtuosa, não sei se algum dia tivemos, porque minha juventude é agora, em 2011 e precisamente no Rio de Janeiro onde o culto ao corpo e imbecilização coletiva é praticamente uma Seita. Temos perfis virtuais assumidos agora, antes era só “disse me disse”, agora temos o facebook, uma rede social na internet onde as pessoas tentam se fazer bonitas, bacanas e interessantes. Eu não poderia ser diferente, tirando a aversão do culto ao corpo e a imbecilização coletiva, eu também tento parecer legal, eu posto fotos que acho bonitas, espero que as pessoas gostem, eu posto músicas que eu gosto, esperando que alguém diga “amo essa música”, eu também espero ver as outras pessoas sendo legais, postando coisas interessantes, trocando idéias, compartilhando interesses em comum. Isso é o que eu espero e por isso ajo dessa maneira, porque na realidade, eu penso que pode ser um lugar para uma reeducação coletiva, um lugar onde as pessoas se acrescentem e evoluam... Mas isso é só o maior dos meus desejos, que importância tem os meus desejos se eu sou uma anônima, não celebridade, 90% dos meus amigos virtuais não significam nada, estão ali porque estão, talvez seja confortável ali porque eles não saem, então acho que eles se sentem a vontade. Inofensivos alguns e outros dramáticos falando o tempo todo sobre suas vidas pessoais e cada um tem uma experiência para ajudar a vida do outro, que no dia seguinte escreve o mesmo drama e outros vem com mais pílulas virtuais de solução. E assim caminha a humanidade, cada um checando as atualizações uns dos outros e quando não estão com o fucinho colado na tela do computador, estão falando sobre o que o “fulano” falou da foto tal, do status qual, do relacionamento o qual só me da náuseas ver essa porra desse outro sistema, já não bastasse lidar com o capitalismo, não basta ter que interagir com pessoas que você quer longe porque pertencem a “Seita”, pessoas mesquinhas e superficiais, jovens virtuais criando seus perfis e projetando no plano físico, na realidade, seus neurônios devorados por pixels quando poderiam também se alimentar, só para manter um equilíbrio pelo menos né?!

Essas redes sociais são tão úteis e inúteis, maldito paradoxo, as vezes penso que beira a insanidade... Engraçado que eu estava assistindo a um seriado de TV (que eu baixo da internet, outro vício da juventude) “The Big Bang Theory” se chama, nesta série existe um personagem demasiadamente cômico por ser completamente inapto a protocolos sociais, e dedutivelmente fácil é dizer que ele é o mais adorado, exatamente pelo fato de ser autêntico, praticamente insensível, quase desprovido totalmente da capacidade de adaptação social e é onde reside a fórmula da sua comicidade: ele está ali e não se importa se é insensível ou requisitado para eventos sociais, para ele tanto faz a companhia dos outros porque ele tem a si próprio e seu vasto conhecimento em física, histórias, religiões, etc etc. E eu acabei de dar pause no episódio que estava assistindo justamente para anotar uma citação que ele usou alegando ser de Albert Einstein, segue: “Einstein define insanidade como fazer algo repetidamente e esperar um resultado diferente.”

Por esta definição acho que sou, ou estou agindo como louca para melhorar o convívio, para crescer, evoluir, ver as coisas se movimentando de uma forma que favoreça as pessoas em diferentes aspectos de suas vidas, incluindo a minha. Loucura ou burrice talvez, seja também uma boa definição, porque eu vivo repetindo as mesmas ações, obviamente seguidas por avalanches de frustrações, loucura!!!

Vou tentar não ser louca, não entrar pra “Seita” ou muito menos achar que sou Perfeita.

Um comentário:

  1. WivZ, eu gostei tanto desse texto... Lí e me identifiquei. Sei que é antigo, mas eu gostei mesmo. Pena que não tem mais...

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